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Por Rodrigo Mello - Jornalista, especialista em Docência e Gestão do Ensino Superior e aluno especial do Mestrado em Sustentabilidade - UEM/IFPR
12 de junho de 2020, 14:18

Como a sustentabilidade pode atenuar um possível colapso da atividade sucroalcooleira no noroeste

Sem uma vocação econômica, a região produz bens de serviço e consumo dos mais variados tipos. A necessidade de gerar riqueza e desenvolver a região, pautou-se economicamente em atividades explorativas, que sem valor agregado, leva apenas ao proveito dos recursos naturais

 

A busca por soluções regionais pode ser o caminho mais curto para a compreensão destes processos. Foto: AEN
 



Tão importante quanto observar e pensar a prática do desenvolvimento sustentável e seus reflexos na sociedade contemporânea é a compreensão de que apenas isso não basta. O crescimento populacional observado pelo mundo nos últimos cem anos apresenta um panorama nada otimista de como o planeta, países, estados ou regiões específicas podem entrar em colapso por conta do uso indiscriminado ou inconsciente dos recursos naturais finitos.

Ao mesmo tempo em que se quer produzir para melhorar o ambiente econômico e social onde se vive, também é necessário intervir de forma efetiva para que a produção de bens de consumo não tenha impacto direto na comunidade, o que pode resultar em mais desigualdade social e degradação ambiental.

Nesta perspectiva a educação ambiental sustentável, baseada no tripé, ambiental, social e econômico, precisa ser levada a sério não só pelos governos, como políticas cidadãs de formação, mas também exercitada pelos indivíduos de uma sociedade ou comunidade que tem a qualidade e capacidade de intervir diretamente no meio em que está fixado, pois cada Estado, cidade ou região, possue características ímpares e que podem incentivar de forma positiva a sustentabilidade.

A busca por soluções regionais pode ser o caminho mais curto para a compreensão destes processos necessários para a prática da cidadania e da dignidade. A região noroeste do Paraná, por exemplo, formada por três microrregiões e inserida em uma macrorregião, tem na microrregião de Umuarama, formada por 21 municípios, um exemplo claro da desigualdade social, degradação ambiental e econômica, criada em função da exploração dos bens naturais, que podem, a longo prazo, piorar o ambiente social e cidadão.

Sem uma vocação ou matriz econômica específica, a região produz bens de serviço e consumo dos mais variados tipos. A necessidade de gerar riqueza e desenvolver a região, pautou-se economicamente em atividades, algumas delas, explorativas, pois sem valor agregado, leva apenas ao proveito dos recursos naturais.

A cana de açúcar usada para a produção, na sua grande parcela de álcool, na indústria sucroalcooleira, por exemplo, tem-se mostrado potencialmente perigosa para o tripé da sustentabilidade. Cultivada em grandes porções de terras  da região, principalmente no município de Cruzeiro do Oeste, a cana de açúcar levou ao arrendamento desenfreado das propriedades, que deixaram de produzir alimentos a partir da agricultura familiar para apenas receber o dinheiro vindo das indústrias que usam o que ali 
é produzido.

Ao olhar de forma mais atenta para esta questão e analisá-la na perspectiva sustentável é possível verificar rapidamente o uso dos recursos naturais sem levar em conta a sustentabilidade. Ao passo que a agricultura familiar, a partir da produção de alimentos, renova e mantém o processo de fertilidade do solo, a cana, retira grande parte das riquezas, deixando a terra mais pobre para a produção de outras culturas.

As queimadas da matéria que resta após a colheita no campo, agora proibidas, também causam degradação ambiental e problemas sociais graves. Por fim, a cultura em questão, também pode levar ao colapso econômico, resultado da demissão de milhares de trabalhadores, na sua grande parcela, chão de fábrica, ou seja, mão de obra barata e sem muita qualificação, como já ocorrido em Umuarama em 2018, quando uma indústria do setor fechou as portas deixando centenas de desempregados.

Os problemas sociais e econômicos gerados  resultantes de uma ação como esta ficam mais evidentes e acentuados ainda, se observados, por exemplo, o impacto ambiental deixado por estas indústrias para a região, ao ponto que  ao desacelerarem ou encerrarem suas atividades deixaram para traz terras improdutivas, desemprego, e caos social, o que tende a elevar os índices de violência e degradação econômica e social.

Neste sentido, a educação ambiental sustentável baseada no tripé, ambiental, social e econômico pode contribuir para uma mudança de paradigma regional, ou pelo menos, para atenuar os possíveis impactos de um colapso em uma das atividades econômicas regionais, que junto as demais, formam a economia microrregional.

Ao compreender as consequências deste processo de produção, as forças políticas  e a própria comunidade poderiam formatar projetos sociais e de descobertas vocacionais autossustentáveis, processo que levaria anos, talvez décadas, no entanto, poderia garantir a sobrevivência e o desenvolvimento efetivo e econômico regional garantindo bem estar e cidadania para a população microrregional, hoje em torno de 340 mil habitantes.


Rodrigo Mello é Jornalista do Portal GR Paraná, especialista em Docência e Gestão do Ensino Superior e aluno especial do Mestrado em Sustentabilidade - UEM/IFPR


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